sábado, 14 de novembro de 2009

Para aquele que se foi.

Toda vez que ele chegava em casa, ela passava o batom, mesmo depois de mais de vinte anos juntos. Eu achava uma peruagem e ria. Ela também ria, mas de felicidade, paixão e gozo. Ria quando tínhamos as pernas entrelaçadas, ria quando nossas bocas percorriam o corpo dele, ria enquanto ele reclamava de exaustão... nosso tesão a 40º de febre, nos tirando a razão. Brigávamos muito, eu e ele, por questões que não se discute: política, religião.Também quando eu dizia não; ele não sabia ouvir não. Era uma criança e nos encantava, era o nosso brinquedo. Alguns anos depois um curto e-mail dela: "Preciso falar com você". Entendi tudo, ele tinha partido. Senti uma dor não momentânea, começou como um incômodo e foi crescendo, crescendo, retesando os músculos, embaçando a visão. Chorei convulsivamente por alguns minutos. Passou. Era passado.