sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ela era a novidade
a falta de rima
a ausência do pudor.
O que eu tão bem tinha escondido
debaixo dos lençóis e dos vestidos.
Quando ela entrou... tudo foi pro espaço:
as boas maneiras, os sapatos envernizados,
minhas calcinhas de algodão,
Agora era só uísque no gargalo
e o cheiro dela na minha mão.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Só quando ele se foi é que me dei conta do que ele deixou. Senti um arrepio na espinha e um movimento interno que era como um vento desarrumando tudo dentro de mim. Junto dele eu tinha ficado metade, morrendo de medo que a hora passasse depressa, louca pra olhar no olho dele o tempo todo, pra não esquecer de nada depois. Como se eu tivesse essa escolha... como se um dia eu tivesse feito alguma escolha depois dele. A sensação era tão forte, que dava vertigem e uma vontade louca de correr nua pra rua. De pedir asilo a qualquer um: me beija, beija a minha boca, não me deixa morrer desse jeito!...


Foto: Jarek Kubicki
eu amo os sonhos: neles tudo é possível
as pessoas podem ter 3 olhos, 8 tentáculos
e serem absolutamente normais
às vezes eu sonho que o mundo
é uma espécie de fantasia
onde anões e fadas, bruxas, ogros e duendes
convivem com homens-morcego e vampiros sensuais
às vezes é um filme mezzo Lynch, mezzo Fellini
às vezes é um vôo ao som de Pizzolla
nada dessa vidinha burguesa-cotidiana-medíocre
cada dia é uma loucura a ser desbravada
quando eu tenho sonhos assim
eu nunca quero acordar...

domingo, 17 de maio de 2009

- Desde a primeira vez que a gente se falou você mexeu comigo. E sempre vai mexer. Eu posso estar casado, de aliança no dedo, que se você ligar pra mim... eu vou ficar de pau duro pra você.

Vou descolar o telefone do filho da puta. Quero ouvir ele gozar pra mim na frente da mulherzinha dele.

sábado, 16 de maio de 2009

Ele vinha ao atendimento quase todos os dias. Coisas de pessoa jurídica. Sempre uma pastinha debaixo do braço e um sorriso encantador. Pelo canto do olho eu sabia quando ele chegava. Pegava a senha e ficava me encarando enquanto eu fingia não perceber. Às vezes, no sorteio, caía no meu guichê. Brilhava todos aqueles dentes num simples "oi". Um dia nos cruzamos no ônibus. Fingi que não o vi. Não quis estragar aquele prazer cotidiano de nunca ter a intimidade que eu morria de vontade de ter com ele. Ah, se aquele menino soubesse de todas as coisas que eu pensei enquanto olhava para aquela boca... ah... se ele soubesse!


Foto: Jenni Tapanila

(com a permissão por escrito da autora)

Há coisas sobre mim que você não sabe e nunca vai saber. Não pense que é porque estou nua na sua frente, que você me desvendou. Que é por causa da vodka barata que misturei as letras e revelarei meus sonhos. Non, mon cher. Há coisas que não estão nos livros, nem mesmo nas entrelinhas. E há coisas que não duram... como eu e você.
No dia seguinte à primeira vez em que ficamos juntas, fomos à padaria onde ela ia todos os dias. Ela me disse que parecia que estava escrito em nossas testas o que tinha acontecido: que o balconista nos olhava com malícia enquanto pegava os pãezinhos; que até a velhinha conversando com a garota do poodle falava sobre nós. Disse isso não com vergonha, mas com um certo orgulho. Seus olhos brilhavam. A única coisa que eu sabia era que eu me sentia tão livre, tão fresca, como se acabasse de tomar um banho de cachoeira. Um dia, no meio da tarde, ela me disse pra deitar no braço do sofá. Não pediu, ordenou com o olhar cheio de desejo. Obedeci. Me abriu toda com a língua. Nunca me senti tão fêmea.

Foto: Amanda Com
meu corpo é arte
um vasto silêncio
é minha jornada
alma adentro

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Foram uns dois meses de telefonemas antes da gente se ver. No início eu não dava muita bola, falava com tanta gente que eu conhecia na Internet... era uma brincadeira, tinha curiosidade de saber sobre as pessoas, de ouvir vozes diferentes, compartilhar fetiches. Mas ele foi insistente, ligava quase toda madrugada, dizia aquelas bobagens que mulher adora ouvir... e com aquela voz... ahhhhhhhhh... "aquela" voz. Gravei nossos diálogos várias vezes e ficava ouvindo, ouvindo, ouvindo... até que, finalmente, tudo terminou. Foram cinco anos de telefonemas e um único encontro, explosivo. O corpo dele sobre o meu, a N. Sra. Aparecida chacoalhando na medalhinha e as tatuagens que eu refiz com os dedos pra não esquecer. Uma vez, depois de muito tempo, ele falou desse dia com todos os detalhes, até mesmo os que eu tinha esquecido. Numa tarde de dezembro, sem despedida, ele se foi. Restaram as gravações e uma fitinha do Senhor do Bonfim que ele mandou pelo correio. Confesso que demorou um bocado pra aprender a viver sem aquela voz.


domingo, 10 de maio de 2009

Quebrando a Caixa de Pandora

Uma vez uma amiga, psicóloga e bruxa, disse que eu tinha pelo menos umas 12 personalidades. Ri. Mas o que sei é que valentina sempre foi meu alter ego. As junções de letrinhas, criadas por mim, que coloco aqui, são colagens de várias passagens da minha vida, relembradas entre cores, música, cheiros, sabores e sensações de todo tipo. As imagens são parte de meu caso de amor com a fotografia em P&B. A maioria destas impressões eu posto em Erotismo na Cidade, onde me sinto em casa.
Longe de mim infringir qualquer direito de copyright. Sempre que possível coloco um link para o site do artista ou para a página de onde tirei a foto. Adoraria que as imagens pudessem permanecer aqui, porque elas servem de inspiração para que eu conte um pouco da minha história. Acredito que a alma da arte é o compartilhamento universal. Porém, se os detentores de direitos sobre as obras sentirem-se prejudicados ou ofendidos de alguma forma, por favor, entrem em contato. Comentários são bem vindos, mas, por favor, não sejam muito cruéis. Eu posso gostar! *gargalhadas*