Ele vinha ao atendimento quase todos os dias. Coisas de pessoa jurídica. Sempre uma pastinha debaixo do braço e um sorriso encantador. Pelo canto do olho eu sabia quando ele chegava. Pegava a senha e ficava me encarando enquanto eu fingia não perceber. Às vezes, no sorteio, caía no meu guichê. Brilhava todos aqueles dentes num simples "oi". Um dia nos cruzamos no ônibus. Fingi que não o vi. Não quis estragar aquele prazer cotidiano de nunca ter a intimidade que eu morria de vontade de ter com ele. Ah, se aquele menino soubesse de todas as coisas que eu pensei enquanto olhava para aquela boca... ah... se ele soubesse!
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